sábado, 7 de novembro de 2009

"O ONBUS INFERNAL DA 1001"



"No dia 03 de novembro de 2009, vindo de Nova Friburgo pela Autoviação 1001, saltei em Niteroi para fazer a conexão que me levaria para São Pedro da Aldeia. Já havia comprado a passagem para o horário das 14:01 H. O onibus só apareceu lá pelas 14:15 H.

Bom, atraso de 15 minutos nas plataformas da 1001 é coisa pouca. Todos entraram, e o motorista M. Garcia, dirigindo o carro RJ-108108, começou a viagem infernal para Arraial do Cabo, que seria o ponto final do carro. Com 10 minutos de viagem os passageiros começaram a notar o calor dentro do onibus de janelas vedadas. Um falou alto pedindo para aumentar o ar ondicionado. Outro perguntou se o ar estava funcionando. Eu perguntei e o motorista disse que não estava funcionando.

Foi ai que lembrei do dia 11 de fevereiro de 2002. Parecia uma volta infernal ao passado. Naquele dia, o ônibus de número RJ-108164, horário 18:15, Castelo-Rio, que ia para Nova-Friburgo, protagonizou uma história semelhante. Ele saiu da Rodoviaria com o ar-condicionado quebrado.

Sete anos atrás ! Era inacreditável, mas era mais uma história de horror que acontecia na Autoviação 1001. O total desleixo e pouco caso com a vida humana se repetiam.

Este é o retrato das companhias de transporte que operam no Brasil.

Quando eu ia pegar o meu celular e ligar para a Autoviação 1001, um passageiro avisou que já havia feito, e haviam lhe falado que a troca de onibus levaria umas tres horas. Notem que o onibus já saiu da rodoviaria com defeito, tanto assim que o motorista nem se deu ao trabalho de ligar o ar condicionado para eviatar que a temperatura saisse no painel.

Má fé total e absoluta !

Como havia crianças pequenas os passageiros resolveram seguir viagem. O motorista parou no ponto de Manilha, local onde eu soltei tambem para ver os acontecimentos, protestar e dizer que estava filmando tudo aquilo. Os funcionários da 1001 confirmaram que um outro onbus iria demorar de duas a tres horas. Chantagem acintosa contra os passageiros. Assim sendo, com os passageiros revoltados e humilhados na sua diginidade, seguimos viagem.

Saltei em Sâo Pedro da Aldeia.

Na rodoviária local, pedi o livro de ocorrências no guichê da 1001, para registrar o fato. Depois de varios cochiços fui informado que não existia livro de ocorrência no local. Me deram um papel carta, desses que são colocados nos onibus para que os passageiros percam o seu tempo colocando reclamações que ficam sem nenhuma comprovação de que foram feitas.

Enganação pura.

Depois de me sentir um perfeito palhaço ao escrever a minha reclamação, entreguei o papel ao funcionario que o jogou no canto do balcão. Desta forma, sentindo toda a dor de ser um cidadão sem nenhum direito de cidadania, fui para o meu destino lá em São Pedro da Aldeia, certo que vivia num país onde as empersas de transporte não tem a mínima consideração e respeito com os seus usuários.

A lagoa de Araruama estava Linda. O SOL estava lindo."


O autor, Wilson Gordon Parker, é escritor

WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)


Guichê da Autoviação 1001, em São Pedro da Aldeia, e o papel de reclamação de ocorrências, que, segundo a 1001, substitui o LIVRO DE OCORRÊNCIAS.

A crônica abaixo escrevi em 12 de janeiro de 2002 sobre o acontecido num onibus da Autoviação 1001. O enrêdo, embora tenha um desfecho bem diferente, foi a mesma falta de respeito para com os passageiros.


"Use o seu Celular para fazer reclamações

Eu detestava telefone celular, mas, atualmente, estou convencido que esse negócio é a maior invenção de todos os tempos. A popularização do mesmo me deixou alegre.

Qualquer brasileiro que não esteja naquela faixa dos trinta e dois milhões de miseráveis que não tem o que comer pode comprar. O pobre que não seja miserável pode ter um, pois é só comprar créditos telefônicos quando tiver algum dinheiro sobrando. Como nunca sobra, ele terá que comer menos, ou quase nada, durante uma semana, e desta forma ele poderá comprar um cartão de dez reais.

Mas o pobre em geral só recebe chamadas, porque ele economiza as ligações, reservando os seus créditos para as emergências que surgem no seu dia a dia. Como rico não "liga" para pobre, e quando aparecem aquelas tais emergências o pobre não tem para quem ligar, ele fala muito pouco no celular.

O celular tem uma grande vantagem para o pobre, porque faz bem para o seu ego portar um na cintura e, a qualquer hora, ele pode telefonar para quem quiser, mesmo sabendo que ninguém gosta de atende-lo, inclusive se do outro lado da linha estiver outro pobre que sempre esta esperando receber a chamada de um rico.

O pobre poderia usar o celular para reclamar, porque na maioria dos números de atendimentos ao cliente a ligação é gratuita. Então vamos fazer um movimento para tornar o celular um objeto útil para a sociedade.

O telefone móvel, conhecido aqui no Brasil como "celular", pois brasileiro adora ser diferente do europeu, mas é "crazy" para copiar o americano, às vezes é realmente muito útil.

Sexta-feira passada, 11 de Janeiro de 2002, na mini rodoviária que fica no centro do Rio de Janeiro, num lugar chamado Castelo, perto do Aeroporto Santos Dumont, como sempre faço nos finais de semana, fui comprar a minha passagem.

Como o "frescão" (ônibus com ar condicionado) já estava cheio, resolvi comprar passagem para o "convencional" (sem ar condicionado), que sai as 18:15 h. Como sempre faço, sentei-me num dos bancos de espera, sob um calor escaldante, pois o local fica como que no subsolo de um edifício-garagem chamado Terminal Rodoviário Menezes Cortes.

Fui logo cercado pelos pivetes da área, que reclamaram por eu ter chegado em cima da hora de viajar, pois eles adoram ouvir as minhas histórias. Interessante é que os meus casos amorosos eu só conto para eles. Já me chamaram para ir visitá-los no lugar onde moram, que é no subsolo de uma rua no centro do Rio, e eu sempre falo para eles que vou lá no inverno. Após o rápido bate papo, fui para o ônibus. O motorista, já conhecido, ficou com o canhoto da passagem e entrei. O trânsito estava um engarrafamento só.

O meu celular tocou quando estava colocando a pasta no bagageiro que fica dentro do ônibus. Era um cara de Manaus exigindo que eu parasse de ligar para a mulher dele. Ponderei que morava no Rio, e o sujeito disse que sabia, mas que não entendia porque eu com tantas mulheres gostosas aqui telefonava para a merda da mulher dele lá. Falei que não era eu que ligava, e tudo deveria ser um grande equivoco, ou um clone do meu numero do telefone. Ele ameaçou me matar e desligou.

Logo depois do ônibus sair do terminal em direção à Nova Friburgo, olhei para o relógio do ar condicionado no painel do motorista que marcava 27 graus. Um calor infernal, e abafado.

Conforme disse, havia comprado passagem para o convencional, mas colocaram um com ar condicionado que tem as janelas vedadas. Tudo fechado. Não entrava ar nenhum, a não ser pela tubulação.

O motorista só havia ligado a circulação do ar, que saia pelos tubos que ficam em cima das poltronas, mais parecendo o vapor que sai do bico de uma chaleira de água fervendo.

Levantei-me, e fui pedir ao motorista para que ligasse o ar condicionado, pois como o ônibus não tinha janelas para serem abertas, o calor estava insuportável, e dentro em pouco alguns estariam passando mal, pois a temperatura interna tenderia a aumentar. Mesmo naquela hora, o calor nas ruas do rio ainda era sufocante. O motorista tentou ligar o ar, e falou:

- Não está funcionando.

- Então vamos ter que dar um jeito nisto, porque senão muita gente vai passar mal aqui dentro.

Nenhuma resposta. O visor da temperatura marcava 29 graus.

Fui para a minha poltrona, olhei o numero de atendimento ao cliente que eles são obrigados a ter em local visível.

Auto Viação 1001 - 0300 313 1001

Disquei.

Uma voz supersimpática atendeu.

- Boa noite, Claudia, em que posso servi-lo?

Narrei para a nossa adorável recepcionista o que estava acontecendo a bordo do ônibus de número RJ-108164, horário 18:15, Castelo-Rio, e disse que iria também ligar para a Policia Rodoviária Federal na ponte rio Niterói e para o jornal "O Globo". Ela ficou espantada com o que eu narrava, e disse que ia comunicar o ocorrido à supervisão da empresa. Pediu o numero do meu telefone celular e o meu nome completo.

Na saída da ponte Rio-Niterói o ônibus foi interceptado, e direcionado para uma das garagens da empresa 1001 que fica em Niterói. O forno ambulante foi trocado por um ônibus muito bem refrigerado. E todos seguimos a viagem muito satisfeitos.

Disto tudo tenho que comentar o seguinte:

A maioria dos passageiros tinha telefone celular, mas nenhum deles pensou em ligar para fazer a sua reclamação, e ninguém se dirigiu ao motorista para perguntar porque ele não ligava o ar condicionado.

Serei mais homem que os que lá estavam? Não! Esta não é a questão. O fato é que o brasileiro, que nunca foi muito chegado a protesto, desaprendeu totalmente de faze-lo durante o tempo em que fomos encurralados pela ditadura militar que nos desgraçou durante 25 anos.

O regime militar despolitizou o povo, amordaçou os formadores de opinião, prendeu e torturou os contestadores, idiotizou parte da geração que surgia, e, assim sendo, no inicio dos anos 90 entregou ao Brasil um rebanho de cordeiros.

O poder foi entregue na mão das elites, a mídia se juntou por inteiro para apoiar este processo, e o rebanho todo vota em quem os poderosos querem.

Pobres não votam em pobres, votam em ricos.

O patrimônio nacional é sucateado e dado de presente aos grupos estrangeiros que aqui aportam. O trabalhador vai perdendo os seus direitos, e o cabo Anselmo que está na presidência da república vive sorrindo lépido e fagueiro.

Os pobres pagam mais imposto de renda do que os ricos.

E ninguém protesta, nem pensa em pegar o celular e ligar para o Palácio do Planalto, ou algum serviço de reclamação de qualquer ministério e órgão público, e dizer que a vida aqui no Brasil está insuportável e sufocante, e só tende a piorar.

Gente, não deixem que "nuestros hermanos de las Americas" comecem a espalhar por aí que somos "una república de bananas", literalmente falando."


O autor, Wilson Gordon Parker, é escritor

WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)

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